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A Programação da 82ª Semana Brasileira de Enfermagem (SBEn) com o Tema Central “O trabalho em Enfermagem no contexto de crise”, de 12 a 20 de maio de 2021, será realizada pela Associação Brasileira de Enfermagem – ABEn Nacional, Seções de Estados e do DF, com ações on-line em razão da prioridade nacional para a agenda do enfrentamento da COVID-19.

A ABEn reafirma a importância das trabalhadoras e trabalhadores em enfermagem na defesa da vida no contexto de aprofundamento da crise sanitária e recrudescimento das crises social, política e econômica presentes no Brasil e no mundo. O tema da 82ª SBEn será desenvolvido a partir dos seguintes eixos aglutinadores de debates, mobilizações e participação de profissionais e estudantes de enfermagem:

  • Eixo 1- Em defesa do trabalho e da educação em Enfermagem: saúde, dignidade e valor;

  • Eixo 2- Em defesa da sustentabilidade do SUS, da saúde e da vida em sua diversidade.


As incertezas e os efeitos advindos da pandemia da COVID-19 geraram consequências das mais graves às mais inusitadas, a depender do nível de proteção social dos países, assim como da capacidade de influência dos organismos de abrangência global, a exemplo da Organização Mundial de Saúde (OMS). Considerando que desde o início do Século XX o mundo não vivenciava uma calamidade sanitária desta proporção e, que a mobilidade populacional é praticamente incontrolável, o distanciamento social como principal medida de contenção do vírus SARS-CoV-2 mostrou-se desafiador para a maior parte dos governos.

Ainda que a ciência tenha sido capaz de produzir conhecimento em tempo recorde e, com menos de um ano do início da epidemia ter apresentado vacinas, não evitou que ao mesmo tempo fosse ultrapassado o número de dois milhões de mortes e cerca de 100 milhões de casos. Além disso, o acesso a esses recursos tem obedecido aos interesses de mercado, de modo a dificultar estudos interdisciplinares, éticos e seguros, com aplicação social imediata. Revela-se, portanto, uma crise mundial multifacetada.

O contexto brasileiro reproduz muitas das contradições do cenário internacional, acrescidas das características de um país onde as desigualdades de classes sociais, de gênero, geração e etnia são imensas e históricas, o que faz a pandemia desvelar cenários de contaminação, de perfil de mortalidade e de acesso aos serviços, por vezes, ainda mais desiguais. Estudos têm apontado que a cor da pele, etnia, grau de escolaridade, renda, local de moradia, dentre outros fatores, têm influenciado taxas de mortalidade e morbidade em diferentes cidades do país. Do mesmo modo, os efeitos sócio-econômicos têm-se mostrado ainda mais acentuados entre as populações mais vulnerabilizadas. E, ao analisar essa complexa condição da crise nacional, e comparar com o desempenho de outros países, é possível dimensionar os resultados da conduta confusa e desarticulada do governo brasileiro diante de uma crise sanitária que foi aprofundada pela crise econômica, política e social que estava em curso.

Por sua vez, o Sistema Único de Saúde (SUS), um dos poucos sistemas universais do planeta com capacidade para enfrentamento real do problema, apesar do desfinanciamento, deu respostas na atenção à saúde da população. Mas nessa esfera de (des) governabilidade, o povo brasileiro enfrenta o aumento da taxa de desemprego, principalmente no setor de prestação de serviços, entre os quais se destacam os serviços de saúde que ficaram sobrecarregados, de forma especial, na atenção de alta complexidade, com recursos financeiros e pessoal escassos. As equipes de saúde tiveram suas jornadas e ritmos de trabalho ainda mais intensificados, além de outros elementos da precarização do trabalho, como as condições, relações e vínculos fragilizados, ao mesmo tempo em que vivenciaram desigualdades de valorização, respeito e reconhecimento social.

Lamentavelmente, no ano de comemorações internacionais da enfermagem, coube ao país a marca de recordista em óbitos de trabalhadoras/es em enfermagem por Covid-19, sobretudo, nas categorias de técnicas/os e auxiliares. Em contrapartida, as organizações sociais como associações, sindicatos e autarquias reguladoras das profissões foram bastante demandadas nesse período de crise, dentre outros fatores, em razão da instabilidade política da gestão em diversos níveis.

Paralelamente, trabalhadoras/es em enfermagem têm sido protagonistas em todos os espaços de enfrentamento da pandemia. A ABEn apoiou e divulgou esse protagonismo, por meio da participação em movimentos nacionais em defesa de direitos de trabalhadoras/es e usuárias/os dos serviços de saúde, divulgando e oportunizando o debate e as produções técnico científicas, sobre a prática profissional e a formação em saúde.

No que tange ao espaço dos processos de educação, houve um incremento gigantesco nas maneiras de ensinar e aprender. Ao mesmo tempo que novas perspectivas são vislumbradas com o ensino on-line, síncrono, assíncrono, o ensino remoto tomou força e se apresenta como uma ferramenta com potencial de permanência num futuro pós pandêmico. Talvez, o maior desafio das organizações do campo da enfermagem e saúde seja o de manter a qualidade na formação e atualização profissional, propondo formas de ensinar de acordo com os tempos atuais, e ao mesmo tempo, posicionar-se de forma contrária ao ensino totalmente EAD para a área da saúde.

Assim, é imprescindível discutir durante a 82º Semana Brasileira de Enfermagem as circunstâncias em que está acontecendo o trabalho nesse campo profissional, seus determinantes que fazem com que a sociedade naturalize processos de exploração dessas/es trabalhadoras/es e a potência presente no trabalho em enfermagem. Faz-se necessário, reforçar entre as trabalhadoras/es e sociedade em geral, o caráter técnico e científico do cuidado de enfermagem.

Que lições possam ser apreendidas com a pandemia e que sejam capazes de levar a profissão a um patamar mais alto na escala da valorização social e do reconhecimento das justas reivindicações das/os profissionais.

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